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Máscaras de Mercádia – A Queda de Mercádia
Parte XVI.
11/12/2017 10:00 - 5.849 visualizações - 8 comentários
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Máscaras de Mercádia – Parte XVI

A Queda de Mercádia
 
 

Volrath, Vuel, O Evincar de Rath... Um nome que sempre assolou a vida de Gerrard.

Aquele amontoado de pele cinza e ossos bulbosos e olhos brancos já era uma forma muito familiar para Gerrard – e não somente por causa de Rath e suas batalhas, mas mesmo após tudo aquilo, a garra sombria de Volrath penetrava sua alma.
 
“Takara!”
 
Gerrard sibilou em uma repentina percepção. Ele empunhava sua espada diante dele, tentando manter o círculo de soldados Mercadianos e Phyrexianos longe. Atrás dele, Sisay sussurrava sem entender, achando que Takara estava lá com Volrath.

“Ela é Volrath.”
 
Ele começa a se lembrar de todas as conversas, as confidências compartilhadas, a culpa desenterrada, o papo sobre ódio ser sua espinha dorsal. Por todo aquele tempo, fora Volrath. Ele se virou para o Evincar tentando provocá-lo. “Então, é onde você esteve se escondendo, na pelo de outra pessoa. Com medo de me encarar.” Um fragmento de raiva surgiu no supercílio do homem, mas levou apenas um instante antes que se dissipasse.
 
“Eu não estava me escondendo irmão. Eu estava arrancando sua espinha de dentro para fora, tomando seu Legado de fora. Eu não assumi a forma de Takara porque eu o temia, mas porque eu o odiava, e eu queria que você odiasse a si mesmo. Em Rath, eu fiz uma carreira arrancando a espinha de heróis e substituindo por ódio mimético. Era isso o que eu estava fazendo com você. Eu não sou covarde – mais um conselheiro, mais um amigo apontando para suas grandes e crônicas falhas, e te capacitando a superá-las. Parece que você é incorrigível. Parece que você é fadado à falha.” (Máscaras de Mercádia, PP. 318,319)
 
Aparentemente, parecia que era Volrath quem falhara. Sua tropa fora destruída. Seus monstros Phyrexianos queimavam junto com os navios. Parecia que seu governo sobre a montanha chegava ao fim. Mas o Evincar apenas riu. Dentro do seu círculo de guardas, ele realmente riu. Sisay e Gerrard  estavam em desvantagem de vinte para um, a amada dele, Hanna, fora executada – assim ele o acreditava – seu guardião Karn estava algemado e preso e o navio perfeito era dele. Ele olhou diretamente para Gerrard.
 
“Você ousa fingir que eu falhei. O que é está frota miserável em chamas? Um preço barato a se pagar por tamanho baile de máscaras, o qual, por esta gratificante dança a qual eu, sistematicamente, arranquei tudo o que você amava até que você permanecesse nu e indefeso – até que eu o mate.” (Máscaras de Mercádia, p.319)
 
Aquele momento sempre esteve nos planos de Volrath. Era inevitável desde o momento que Gerrard roubara seu direito de herança. A morte de Gerrard era inevitável... mas todas não são?

Gerrard avançou com sua lâmina, mas ela foi facilmente revidada. Suas tropas cercaram Gerrard e Sisay. Três Mercadianos e um Phyrexiano perderam suas vidas antes que a espada dela fosse arruinada e ela fosse lançada no chão. Gerrard se virou e viu sua companheira deitada no chão, com um tridente apontado para o pescoço dela. Ele rosnou e tentou ir em direção a ela, mas alguma coisa afiada e pesada acertou seu ombro.

“Primeiro, você deve lidar comigo.”
 
Os soldados não matariam Sisay até que Volrath matasse Gerrard. Ele desejava que ela visse aquela cena antes de morrer. Ele atacou com um zumbido que acertou em cheio a espada de Gerrard. O metal ressoou no metal, soltando fagulhas. Urrando, Gerrard segurou o punho da espada do Evincar e a empurrou de volta. “Mercádia não é mais sua. Nunca será outra vez. Eu neguei a você este mundo.”

Volrath ria. O som parecia-se com o mesmo de quando ele era Vuel, e corria pela paisagem de Jamuraa buscando aventura. Mas agora, nada sobrara de Vuel, nada além de remorso e crueldade. Ele não se importava com os Mercadianos. Eles podiam jogar seus jogos ou perecer, tanto faz. Mais uma vez o Benaliano tentou sua manobra de provocação, mas dessa vez ele disse que negou Dominaria a Volrath.

Volrath parou e riu alto. Não era uma risada de ódio, mas um berro de uma risada mordaz.
 
“Seu idiota! Você não pode me negar coisa alguma. E mesmo se pudesse, você não pode negar meu mestre. ‘Quem é seu mestre?’ Gerrard sentiu seu coração martelar no peito. ‘O Inefável, Senhor de Phyrexia e deus do Multiverso. Ele gastou milênios planejando a Invasão a Dominaria. É a terra natal dele. Sua terra sagrada. Ele veio de Dominaria, sabe, com seu povo, os Thran. Com seu povo, os Phyrexianos, ele retornará. Você acha que vai detê-lo? Você acha que esta frota, que você tanto se orgulha por ter destruído era sua inteira força? O que você viu sob a montanha é a menor parte, o menor dedo da mão de Phyrexia. Essa mão está se estendendo até seu mundo, e não há nada que você possa fazer para detê-la.” (Máscaras de Mercádia, p.320)
 
Gerrard aparou o golpe da espada. As lâminas se digladiavam e guinchavam quando se chocavam uma com a outra. Enquanto eles se enfrentavam, uma parte adormecida da mente de Gerrard se lembrou de um duelo idêntico.

Uma memória antiga, dormia e agora despertava.
 
Ele e Vuel, meros garotos, lutavam na ensolarada Jamuraa. Ao lado deles estava o pai de Vuel, Sidar Kondo. A lembrança trazia as instruções do Sidar. Ele falava aos garotos, instruindo-os de como espadachim algum era invulnerável. Cada força lançava uma sombra de fraqueza. Acerta ali. Entre aqueles dois, Gerrard era o mais agressivo guerreiro, por isso suas defesas eram fracas e lançavam uma sombra. Vuel, tinha mais vantagem no lado esquerdo. Golpes poderosos e mortais quando caíam na esquerda, mas o lado direito lança a sombra – desguardado e mais aberto ao ataque.
 
 
Quando Volrath tentou acerta seu lado esquerdo, Gerrard, conscientemente, desviou. Outra vez, Volrath atacou. Gerrard caiu para trás. Duas vezes, os ataques de Volrath acertaram. Gerrard sentiu o fluxo de sangue escorrer do braço esquerdo. Sue irmão ria violentamente, ávido por ver sangue, ele se lançavam mais imprudentemente para a esquerda, deixando seu lado direito aberto.

Com cuidado, Gerrard disse a ele mesmo. Ele aparou um golpe e calculou a distância entre eles. Ele teria somente uma chance. Se ele golpeasse e falhasse, Volrath perceberia o que ele estaria tentando fazer e, provavelmente, ele seria morto.
 
Ele baixou sua guarda e fintou.
 
A lâmina de Volrath balançou para trás, apontando diretamente para o lado esquerdo exposto. Rápido como um pensamento, Gerrard acertou o lado direito. Seu aço se lançou através da armadura do peito, se afundando no metal, músculos e ossos até se afundar nos pulmões. Volrath caiu, se soltando.
 
Ele rosnou em dor, o buraco no peito jorrava sangue mesmo quando ele sugava ar. Uma espuma dourada se formava nos seus lábios enquanto ele se engasgava.
 
“Você... me... feriu!”
 
“Não, meu irmão. Eu matei você!”
 
Como um machado, sua espada afundou. Volrath estremeceu, erguendo sua lâmina para aparar, mas era tarde demais. Ela retiniu em sua mão, inútil. A espada de Gerrard caiu como se fosse uma clava e cortou como uma navalha. A espada acertou o colarinho de Volrath, decepando-o. O Evincar jazia aberto. A medula da costela cortada ao meio, carne e tendões esfolados mostravam-se claramente derramando sangue como uma tempestade de sangue.
O irmão de Gerrard Vuel – Volrath, a nêmesis de Gerrard - finalmente estava morto.

Gerrard puxou sua espada dele, sabendo que o mesmo fim o esperava. Phyrexianos e guardas Mercadianos avançaram. Ele se preocupou com nenhum deles, mas somente com Sisay. Com um guincho, Gerrard balançou sua lâmina como se fosse uma foice. Ela colheu a cabeça dos captores de Sisay. Eles caíram como seu mestre, em um jorro de sangue. O sangue vermelho escorria pelo chão. Os poucos que sobreviveram ao primeiro ataque não sobreviveram ao segundo. A mão escorria com a vida de seus inimigos, ele alcançou Sisay e a pôs de pé. Ela puxou um tridente de um dos guardas mortos, e ficou costas a costas com Gerrard. Eles observavam o círculo de soldados se apertar.

“Assim como... nos velhos tempos.”

“Excedidos em vinte para um?”
 
“Bem, tem isso.”
 
“Cercado por idiotas?”
 
“Tem isso também.”
 
“Prestes a morrer?”
 
“Sim, era essa a parte que eu quis dizer.”
 
O tempo de piadas acabou. Uma parede de tridentes e espadas convergiu ao redor dos dois. A espada de Gerrard estava coberta de sangue e respingava no rosto dos inimigos enquanto ele a usava. Sisay usava uma arma inferior – um tridente enferrujado e cego – mas ela o usou para devastar os soldados. Na primeira onda, eles conseguiram derrubar cinco inimigos cada, mas havia mais vinte cinco. O peso do metal assolou Gerrard e Sisay.
 
“Foi bom.”

“A luta?”
 
“Conhecer você.”
 
“Digo o mesmo.”
 
A conversa foi interrompida pelas lâminas que convergiam. De ambos os lados, os inimigos surgiam. Ele deu um golpe final, sabendo que não poderia deter todos eles. A lâmina não encontrou resistência. Ela passou pelo ar vazio. Vazio não – cheio de energia. Um largo, raio vermelho, luminoso como o sol, apareceu diante de Gerrard. A luz queimou a carne dos Mercadiano, derreteu armaduras e armas Phyrexianas, transformando em esqueletos ambas as raças. A espada dele foi acertada pelo disparo, ela murchou e caiu no chão em uma poça prateada. Lá, ela se misturou com armas e armaduras aquosas dos inimigos.
 
Ele se afastou do raio mortal e viu quando ele pulverizou o inimigo de Sisay. Um punhado de soldados sobreviveu a investida. Tão repentino quanto apareceram, os raios letais se foram. Na escuridão, dois pontos de luz ascendentes apareceram permaneceram – um par de lentes de refrigeração nos canhões, abordo de certo navio.

O Bons Ventos.

Era uma visão maravilhosa. Ele flutuava no ar, envolto nas profundezas reluzentes do hangar da caverna. Seu casco reluzia como se tivesse sido polido, as velas se alongavam pelos mastros como asas esticadas de cada lado. O Bons Ventos estava completo outra vez. Ele estava voando e lutando outra vez. Os Phyrexianos e Mercadianos que sobraram fugiram diante do navio de guerra. Uma corda fora lançada e uma cabeça apareceu, olhando para baixo. Gerrard percebeu que o navio era a segunda coisa mais bela que tinha visto.
 
Hanna.
 
Ele não podia acreditar no que via. Era reconfortante saber que Volrath era um mentiroso e que havia mentido quanto à execução dela. Ele tentou agarrar a corda, mas devido ao ferido do ombro, não conseguiria escalar. Suas mãos tremiam e seu braço esquerdo estava fraco, mas ele se esforçou para lançar a corda por sob seus braços e amarrar sobre o esterno. Sisay terminou o trabalho com um nó de marinheiro. Ela esperaria por outra corta e deixaria o Capitão subir primeiro.

O Imediato, Tahngarth, arremessou outra corda e Sisay pôde escalar. Hanna puxou Gerrard rapidamente para o convés. Ele subiu e caiu pela amurada sobre Hanna. Os dois amantes riram e a risada deu lugar a um beijo. Hanna sorriu de volta e apertou as lacerações do ombro dele. Era uma pena que Orim não estivesse lá, mas ele estava feliz por Hanna estar. A curandeira poderia cuidar do ferimento depois, mas, agora, o que realmente lhe interessava era o fato do navio estar totalmente curado.

Juntos, eles desceram até a enfermaria e Hanna fez algumas ataduras para Sisay e Gerrard. Em um palete próximo, Squee estava deitado recuperando suas forças. Após as ataduras, eles foram até a sala de máquinas. Lá, eles encontraram Karn, imaculado como sempre. Filamentos metálicos saiam de seus dedos e se empurrava até o núcleo de energia. Era a concentração dele que fazia o Bons Ventos flutuar no meio da fumaça da caverna. Com um pensamento ele podia controlar todo o navio.
 
Passando por ele, Hanna alcançou a janela do motor, onde a Matriz de Energia descansava. Ela mostrou para o resto da tripulação o que estava dentro: a Bolha Juju.
 

Sim, Hanna usara a Bolha Juju para consertar o navio!

Essa façanha espantou até mesmo Gerrard. Ninguém sabia, mas a bolha era carregada por Karn dentro de suas entranhas, desde muito tempo. Quando Hanna começou a falar, Sisay teve um lapso de memórias espontâneas. Ela lembrou-se de seu imediato, Meida, morto quando tentava recuperar a Bolha Juju das Regiões Agrestes de Adarkar.
 

Hanna puxou Sisay para que ela visse seu grandioso trabalho. Ela pegou os Ossos de Ramos e os prendeu dentro da estrutura da Matriz de Energia, mas aquilo não foi suficiente. Ela esperava que eles providenciassem um vínculo final que canalizaria o poder dos Cristais Thran, mas eles não fizeram até que a Bolha Juju fosse adicionada. Aquilo foi ideia de Karn. Ele a retirou do seu peito e percebeu a utilidade dela. Quando eles colocaram a Bolha por cima da estrutura dos cristais, ela agiu como se fosse uma lente. Ela canalizou a energia. A Matriz de Energia espontaneamente cresceu para incorporá-la.

Um trabalho de uma verdadeira artífice Argiviana.
 
Mas a pergunta que não queria se calar: eles poderiam transplanar?
 
Hanna assentiu, afinal não havia motivo para não conseguirem. O navio estava mais poderoso do que nunca, resultado da combinação do novo poder oriundo do Modelador de Céu que Karn instalara assim que eles partiram de Rath. Tudo indicava que eles podiam viajar duas vezes mais rápido do que antes.
 
 

Mas não havia espaço suficiente para que eles alcançassem a velocidade necessária para transplanagem. Algo que podia ser facilmente resolvido. O Capitão decidiu que, para resolver aquilo, bastava explodir uma aberta na caverna principal e atravessar as portas da base. O resto da frota eles poderiam destruir na rota. Hanna estava incrédula quanto aquela estratégia. Mas, uma vez que ela tinha dito que o navio estava mais poderoso do que nunca, aquele era o momento de testá-lo. Todos foram para os postos de batalha, mas Hanna foi para a navegação orientar Sisay.

Somente Dabis e Fewsteem permaneceram. A única estação de batalha que ambos conheceram fora a cozinha, bloqueando panelas e frigideiras.  
 
Gerrard levou os dois com ele junto com Tahngarth. Seria necessário quatro para manusear as armas dianteiras. Se os dois se saíssem bem lá, seriam promovidos.
 
Armas dianteiras e possível promoção? Aquilo soava melhor que panelas e frigideiras.
 
Em séculos de existência o Bons Ventos fora equipado com numerosas medidas defensivas – disruptores de dimensão, bombardeios, armas de lanterna, atomizadores de ácido... Todas essas armas, embora, foram gentis comparadas aos massivos canhões de raios Phyrexianos acoplados junto à amurada. Cada um deles consistia em um barril do tamanho de um homem acima do motor e do conduto. Conduítes corriam entre os dois como se fossem redes de veias saltitantes. Um par de pés e um arnês de torso permitiam que o artilheiro se apertasse contra o conduto enquanto segurava os controles de fogo duplo.
 

 

 
Essas duas armas de destruição estavam no convés superior, e Gerrard e Tahngarth subiram até eles. Eles se posicionaram e agarram os controles, movimentando os barris. Dabis e Fewsteem estavam na meia nau. Uma quinta arma empoleirada na cauda do navio se movimentava também. Uma pequena criatura verde subiu nela e tomou conta dos controles. Squee ouvira o chamado para os postos de batalha e agora, ele desejava atirar com a arma que ele ficara olhando durante suas horas agonizantes.

Aqueles canhões eram uma obra-prima. Realmente os Phyrexianos entendiam de armas. Do duto de comunicação veio a voz de Sisay, ordenando que todos devessem se amarrar nos arreios, porém sua voz foi cortada pelo som do Bons Ventos. O navio rugia ansiosamente, subindo alto, deixando o chão ardente do hangar. Firme e zumbindo, o navio lançou uma explosão de fogo.
 
Ele estava muito mais possante do que antes. O navio se posicionava para abrir caminho. Karn ficou responsável para enviar energia extra para as armas dianteiras. Apesar de não haver resposta do duto de comunicação, de repente o calor chegou e o fogo rastejou até os conduítes. O navio deslizou por cima de uma embarcação goblin e suas armas se prepararam. Dentro dos barris a luz carmesim se iluminava. O Bons Ventos não se mexeu para não alterar as miras.
 
Fogo!
 
Quatro raios vermelhos despertaram dos barris. Eles acertaram e derreteram a rocha, transformando-a em magma, areia e vidro fervente. A rocha líquida jorrou. Um buraco surgiu do lado do deslizamento. Suas bordas foram fundidas pelo calor estelar.
 
Mais disparos surgiram. Mais rocha derretida foi vomitada. A rocha parecia cera diante dos olhos do Bons Ventos. Um rio vermelho escorria da base do corredor. Vapor e fumaça subiam até o teto da caverna As paredes vermelhas da caverna gotejavam lava. Novamente, os raios saltaram. As pedras finais derreteram-se e uma onda de fumaça azul da caverna principal rolou para dentro, sibilando à medida que passava pela caverna incandescente.
 
As quatro armas pararam e escureceram. Toda tripulação deu um brado. A passagem era ampla o suficiente para que o Bons Ventos escapasse e o teto estava frio o bastante para não derrubar rocha derretida no convés. Através da neblina grossa da passagem, os incêndios de navios eram visíveis na caverna além. Sisay levou o navio pela passagem e, uma vez que entrassem na caverna principal, eles finalizariam com o que restou da frota.
 
O navio entrou pelo corredor quente, outro brado foi ouvido, ecoando pelas paredes vítreas.
 

Aquele brado, os sons do navio, os disparos...

Volrath ouvira tudo aquilo. Sim, o Evincar estava lá ainda, vivo. Ele ouviu aquele som provocante, aquele som exultante. Significava que Gerrard escapara do hangar. Também significava que Volrath podia se mover em segurança. Sua carne, lentamente, se tricotou de volta. Na verdade, Gerrard não feriu Volrath tão horrivelmente quanto parecia. Foi um golpe dilacerante, sim, mas não um golpe fatal. Desesperado por tempo para curar a ferida, Volrath usou suas habilidade de metamorfo para acentuar a aparência do ferimento.
 
Aquela mesma habilidade permitiu que Volrath curasse rapidamente feridas que teriam matado outro homem. Esta laceração levaria uma hora de agonia, mas, pelo menos, não seria um ferimento fatal. Ele esteve incapacitado pelo corte, e o golpe seguinte teria matado-o... exceto que Gerrard nunca deu o golpe seguinte. Mesmo agora, enquanto Volrath realinhava músculos e costelas, o desprezo de Gerrard ecoava em sua mente.
 
“Se escondendo na pele de outra pessoa... com medo de me encarar... covarde...”
 
Ele tentou sentar-se, mas ainda estava muito fraco. O sangue ainda estava retornando as veias. Logo ele estar apto a lutar novamente. Gerrard podia ter destruído a maior parte da frota, mas ele não encontraria o navio de guerra de Volrath, Recreant. Ele reuniria outra tripulação, alcançaria seu navio e lutaria outra vez.

Não era covardia fugir de uma batalha que não podia ser vencida para esperar por uma que pudesse ser vencida. Essa era a melhor parte da coragem... coragem!
 
Covardice? Não, coragem!
 
Em sua própria mente as palavras soavam falsas.
 
Gerrard o matou. Gerrard roubou tudo de Volrath. Era somente por causa da covardice que ele sobrevivera. Gerrard o matara outra vez.
 
Gerrard!
 
O ódio providenciou uma espinha a Volrath. Ela se formou. Ele não precisava se preocupar com covardice ou coragem, somente com ódio. O ódio o ergueria outra vez, o ódio faria Gerrard cair.
 
 
 
Enquanto isso, acima, na cidade de Mercádia...

Por toda a manhã, a tempestade vomitou sua escuridão e sua fúria vingativa. A chuva caiu em lençóis e rios aéreos, destroçando muralhas, paredes e lavando todas as construções antigas. Pedra por pedra, em suas garras de furor a cidade de Mercádia veio à ruína.

A revolução abaixo fez um efeito similar.
 
Marés de Ramosianos encheram as ruas, arrastando os guardas Mercadianos. Tritões manobravam seus tridentes enquanto que marinheiros de Rishada lançavam arpões em gigantes. Um dilúvio de fazendeiros montados em Jhovalls partiu pelo mercado derrubando os feitores Cateran. Escravos saíram de seus poços e lançaram seus senhores cascata abaixo. A revolução aplainou toda a sociedade em um mesmo patamar. As massas, que foram massacradas pelo sistema do Estado de Mercádia, se uniram e derrubaram o sistema. Todos agora eram iguais. A sociedade opressora fora arrasada.
 
No final da manhã, a tempestade e a revolução cessaram sua fúria. Espadas cessaram o corte e corpos pararam de sangrar. Kyren mortos estavam espalhados pelo chão e os vivos foram derrotados enquanto os gigantes mortos formavam uma linha desgrenhada.
 
Mas seria isso justiça?
 
Nos momentos decrescentes da batalha, parecia que os revolucionários apenas reverteram à hierarquia da opressão, exaltando os humilhados e rebaixados. Tal impulso, inicialmente, se parece com justiça, mas eles são somente vingança. Ao longo do tempo, a vingança se transforma em vendeta e a vendeta em tirania. Era um momento perigoso para a revolução.  Os antigos e malignos monstros estavam mortos, assassinados por um novo monstro que poderia provar ser duas vezes pior.
 
Herois se ergueram para aprisionar essa besta.
 
Atalla cavalgou em seu Jhovall para impedir a execução em massa de guardas Mercadianos. Lahaime marchou com seus rebeldes para o mercado superior para reprimir a pilhagem descontrolada. Cho-Manno mandou seus magos d’água para salvar os tritões do fogo que se alastrava. Orim cuidava dos cidadãos que foram abatidos por seus próprios amigos, familiares e vizinhos que procuraram acertar velhos débitos transformando a revolução em motim. Ao destruir seus antigos opressores o povo deixou de ser oprimido. Eles perderam sua característica singular e se voltaram uns contra os outros. Tão malvado e voraz era esse novo monstro que ele se devorou de dentro para fora.
 
O ódio não era uma espinha própria para herois e nações.
 
Naquela confusão, Orim berrou para Cho-Manno. Alguma providência devia ser tomada. Ela estava ajoelhada ao lado de um idoso que fora apunhalado pelo próprio neto a quem ele tanto se dedicara.

“O povo está se matando! Você deve falar com eles!”
 
A silhueta do líder Cho-Arrim se posicionava contra céus nublados. Seu povo já havia feito tudo o que podia para salvar a cidade. Batedores celestes e guerreiros foram despachados em missões de misericórdia. Mas não era o suficiente. Ele devia falar com os Saprazzianos, Rishadans e Mercadianos – todos eles deviam ser o povo dele agora, não somente os Cho-Arrim.

Mas havia um problema: Cho-Manno não falava a língua deles.
 
Ele queria que Orim falasse com eles, mas ela sabia que não seria ouvida. Ela nem era daquele mundo. A única maneira de resolverem aquilo era usar o “truth-speak” com ela, assim ele conheceria a língua deles. Ele poderia falar através dela. Seria algo doloroso, mas para Orim, ver aquele massacre sem sentido era ainda pior.
 
O líder Cho-Arrim segurou a mão dela nas suas e a pôs de pé. Ele a trouxe para perto dele antes de soltar os dedos dela.
 
“Você está certa disso?”Os olhos de Orim estavam manchados de lágrimas quando ela disse, “Se não há um Unificador, talvez você e eu devemos se tornar o Unificador. Nós devemos nos unir para trazer união ao povo. (Máscaras de Mercádia, p. 337)
 
Cho-Manno assentiu. Então um cântico se iniciou e adentrou as orelhas de Orim, levando tudo embora. Ela fora abraçada pela agonia, mas ela não veio. Não houve violação, nem a abertura de memórias escondidas. O cântico fluiu para dentro de Orim como uma corrente de cura. Cho-Manno apenas procurou por cenas de paz e beleza, verdade e vida. Seus pensamentos não romperam barreiras, mas dançaram em sintonia. Juntos, suas mentes se misturaram e dançaram...

A vida de um passou pelo outro. A esperança jorrava, os corações se uniam através dos sentimentos puros. Orim sentiu mais, uma esperança luminosa que encheu o vazio de Cho-Manno. Ela o renovou e trouxe as palavras Mercadianas que ele necessitava. A mente dos amantes continuou entrelaçada. Um simples feitiço carregou as palavras através da névoa e nuvens acima, enchendo toda Mercádia com a voz de Cho-Manno.
 
“Meu povo, que a matança cesse. Os cordeiros mataram os lobos. Que nós não nos transformemos nos lobos. Que a matança cesse...”
 
Suas palavras ecoaram profeticamente pela cidade. Tumultos, execuções e atrocidades pausaram. Ele repetiu as palavras na língua dos Saprazzianos e dos Cho-Arrim.
 
“Nós viemos aqui para lutar por justiça, e nós a conseguimos. Não vamos mais lutar ou recuperaremos a injustiça. Nós viemos aqui procurando mais do que justiça. Nós viemos procurar pelo Unificador. Velhos mitos misturados com novas esperanças fizeram com que acreditássemos que Ramos voaria flamejante pelos céus, que ele traria novos filhos entre os antigos. Estas novas crianças ajuntaram sua alma e mente e corpo, seu espírito e coração e ossos o ressuscitaram, para erguer o Unificador. Nós nos ajuntamos aqui para nos reunir atrás de Ramos, para expulsar o mal, e trazer um novo mundo. Nós viemos aqui procurando pelo Unificador, mas encontramos nenhum. (Máscaras de Mercádia, pp. 338, 339)
 
Uma nova tensão de dúvida adentrou nas palavras esperançosas de Cho-Manno. Se fosse outra pessoa, tais palavras não teriam sido pronunciadas para a turba, mas ele não desejava plantar dúvida em suas mentes. Ele apenas expressou o que já estava lá. Talvez todos os povos devessem culpar seus antigos inimigos – nobre, Kyren, Phyrexianos. Talvez eles preveniram o Unificador de se erguer. Rumores de que Ramos fora capturado – alma, corpo e mente – escravizado ou destruído. Os povos lutaram entre si, acreditando que, talvez, nunca seriam um.

Tridentes, mãos, rebeldes, fazendeiros, piratas e tritões olhavam na direção da torre de onde Cho-Manno falava. Palavras honestas que amedrontou a todos. Não havia alguém para culpar. Talvez a culpa fosse dos velhos mitos e das novas esperanças. Esses mitos tinham o poder de trazê-los aqui, mas não tinham poder para erguer o Unificador. Há uma palavra para histórias que fazem cócegas no coração da verdade sem nunca agarrá-lo: Mentiras. Talvez o povo devesse culpar os mitos, as novas esperanças, os inimigos ou talvez eles mesmo.
 
A escuridão pairou sobre cada rosto. Incerteza. Espadas caíram no solo, não procurando por paz, mas na desesperança da guerra. Cho-Manno continuou seu discurso, afinal, parecia que havia ninguém para culpar. Era dito que o Unificador não se ergueu, mas lá estava o povo unido. Ramos não expulsou o mal de Mercádia, mas o mal foi expulso. As antigas histórias se tornaram realidade. Ramos o Unificador se ergueu, talvez não como os povos esperavam, mas ele os reuniu. Eles apenas deviam reconhecer que tudo aquilo, de fato, aconteceu e por isso deviam estar gratos.
 
Ao final do discurso, lágrimas escorriam pelo rosto de Cho-Manno. Lágrimas de esperança e desespero. Ele não estava certo se a verdade seria o suficiente para deter a tirania. Orim se aproximou e o abraçou. Se eles não ouvissem aquelas palavras, então todos estavam condenados.
 
Um trovão repentino interrompeu as palavras dela. Ela olhou para o alto e viu o céu dividido em dois. Um deus disparava pelos céus – um corpo feroz com asas de anjo e uma garganta que cantava tão alto e glorioso como um coro celestial.
 

Toda Mercádia caiu de joelhos. Até mesmo Cho-Manno.

Orim também se ajoelharia, a não ser que ela estivera escondida na barriga daquele deus e ela sabia que não passava de um mero navio.
O Bons Ventos!
 
Parecia que somente ela reconhecia o navio. Enquanto isso, cada criatura recitava em coro... “Ramos... Ramos... Ramos...!”
Mercadianos, Saprazzianos, Rishadans, gigantes, homens javali, grifos, goblins – todos se ajoelhavam onde estivessem e recitavam o nome do deus deles. “Ramos... Ramos... Ramos...!”
 
Orim balançava a cabeça. Apesar de o navio ser glorioso e belo, ele não era um deus. Mas fazia diferença? As pessoas precisavam de deuses. Melhor do que isso, eles os encontraram em velhas lendas e máquinas voadoras e não em tiranos e Phyrexianos. O cântico parou repentinamente. Um choro de terror veio das ruas da cidade. Ele formou uma nova palavra – o nome de um antigo deus. “Orhop!”

Era o nome do irmão maligno de Ramos – Ramos e Orhop, Urza e Mishra, Gerrard e...
 
Orim sibilou quando ela viu um segundo navio , um navio Phyrexiano que ela percebeu o homem que estava no leme. “Volrath.”
 
Finalmente, Orim se ajoelhou.
 
O navio Phyrexiano, rugiu em sua magnificência e saltou no rastro do Bons Ventos. Acima do grito dos motores veio o som crepitante dos canhões de raios sendo descarregados na embarcação.
 
Volrath...
 
Nau Voadora Bons Ventos, sala de comando
 
“Nós não vamos conseguir manobrar!” A voz de Sisay ecoou com urgência através do duto de comunicação. O Recreant era tão rápido quanto o Bons Ventos, tinha o dobro de tamanho e três vezes o poder de fogo. A situação necessitava de medidas drásticas para que eles ganhassem vantagem sobre o navio Phyrexiano. Sisay fez uma manobra violenta pondo o navio para que deslizasse para o lado, fazendo com que o ar passasse corresse pelo convés. Finalmente, o navio inimigo surgiu à vista.

Abaixo da nuvem, o navio parecia um dragão voador. Sua proa parecia a mandíbula de alguma coisa e dela vieram disparos que atravessaram o convés principal do Bons Ventos, vaporizando uma seção da balaustrada. Gerrard lançou seus disparos que rasgaram o casco do navio Phyrexiano, apesar da fumaça que subia, o navio continuou vindo implacavelmente. Ele se lançou, tentando se chocar contra o bombordo do navio. O Bons Ventos saltou e conseguiu fugir do ataque que mais pareceu um aríete vindo na direção deles. Olhando para trás, Gerrard comprovou o nome do navio e percebeu uma figura familiar no leme.
 
“Volrath está vivo?”
 
Quase que desprotegidos, os canhões da proa rugiram com vida. Certa figura verde lançou seus disparos. Eles golpearam como marretas e se chocaram com os disparos Phyrexianos, se emaranhando e explodindo no ar. Uns poucos disparos do goblin conseguiram atravessar e acertaram a vela central do Recreant, fazendo um buraco nelas.

Eles tentaram fugir de seu atacante, mas o navio Phyrexiano possuía canhões múltiplos em cada lado. Não somente o armamento era superior, mas ele era mais veloz, ágil e letal. A única alternativa que Gerrard encontrou era subir, assim Volrath carregaria aquele peso pelos céus. Mal as palavras soaram pelo duto de comunicação, o Bons Ventos se inclinou em direção as nuvens. Os motores rugiram e disparos saíram da traseira do navio. O Recreant seguiu. Subiu tenazmente atrás de sua presa, mas aquela ascensão enfraqueceu as explosões dos canhões.
 
Gerrard olhou para trás, para a figura no leme. Em dias mais remotos, Urza e Mishra também se digladiaram e Mishra fora multilado pelos Phyrexianos. Urza destruiu seu irmão em repulsa. Estranho como a história se repetia.
 
Será que esse dia seria como aquele?
 
Não. Gerrard abandonara seu ódio. Ele não mais odiava Volrath. Somente sentia tristeza. Ele o mataria, não por fúria, mas por misericórdia. Então, veio à ordem súbita.
 
“Desviar toda a força para a arma de Squee. Desligar os motores.”
 
A resposta de incredulidade ressoou pelo duto de comunicação. Se eles fizessem isso, o navio cairia do céu e se colidiria contra o navio Phyrexiano. Mas Gerrard estava confiante. Seriam eles que bateriam no navio inimigo.
 
Relutante, eles concordaram.
 
Houve um silêncio repentino. O rugir do Bons Ventos cessou. O ar se aquietou. Até o vento que se espalhava ficou calmo. Ele se dependurou por um momento no ar, uma picareta pairando antes de cair. No silêncio, somente a arma de Squee falou. Ela descarregou disparos tão quentes que atravessaram direto pelo Recreant. Então, o Bons Ventos caiu. Sua popa, longa e forte, perfurou a ponte, despedaçando vidros e o leme. Volrath guinchou, se desviando antes que fosse atingido. A popa afundou mais profundamente dentro do navio e poderia ter ficado atolada, se não fosse pelos canhões de Squee. Os disparos despedaçaram tudo pela frente, abrindo caminho para o Bons Ventos.

Em instantes, a proa do Recreant estava completamente vaporizada e com o peso de centenas de toneladas do motor. Somente a proa do navio sobreviveu. Ela caiu, com Volrath se agarrando ao seu casco despedaçado.
 
Os motores do Bons Ventos foram energizados outra vez, com carga total. O navio se soltou do seu mergulho e se ergueu. Os coletores se encheram de ar e o navio zarpou em direção ao sol. A ordem era para que subissem mais alto, pois havia outro navio se aproximando da cidade. Eles estavam preparando um ataque de mergulho.
 
Recreant
 
Gerrard fizera de novo. Outra vez, ele o matara. Volrath sabia que ele morreria dessa vez. Seria covardice não morrer. Ele estava definitivamente derrotado. Continuar vivo seria como ter a vida de um verme. Uma vida miserável.

Embora, ainda seria vida – uma vida que Volrath suportaria.
 
Enquanto a proa se despedaçava, ele fez seu caminho até seus aposentos. Tudo estava em desordem, menos o mecanismo do portal. Estava preso à parede, atrás de uma escotilha trancada. Apesar do caos e da morte iminente, Volrath, calmamente, destrancou a escotilha.
 
“Com medo de me encarar... covarde...”
 
Essas não eram mais as palavras do seu irmão. Agora eram suas próprias palavras. Ele adentrou o dispositivo. Aquele simples movimento o livraria da morte, de Mercádia. Ele retornaria, como um cachorro enxotado, para seu trono em Rath.

Orim observava os dois navios subiram em direção ao sol. Gerrard e Volrath... Urza e Mishra... Ramos e Orhop. Ela lembrou-se da história dos Separi e de como os Irmãos se destruíram. Mas como essa acabaria?
 
Cho-Manno apontou para um pequeno meteoro que despencava do céu. Era muito pequeno para ser um dos navios, mas nem ele nem Orim tinham certeza disso. Não havia sinal do Bons Ventos. Por todo esse tempo Orim se ressentia pela intrusão de Gerrard e a tripulação em sua nova vida. Agora, diante da possibilidade da morte deles, ela estava desolada. Mesmo amando Cho-Manno ela sabia que a vida dela estava abordo do Bons Ventos.
Eles não sabiam o que aquela fumaça era, mas não eram eles. Ela observou enquanto o naufrágio caiu em planícies distantes, então ela se virou para o sol. Alguma coisa surgia por detrás deles. Muito maior do que o navio que afundou, e se aproximava do oeste.
 
Um navio?
 
Orim acreditou que fossem seus amigos, mas quando ela percebeu as asas metálicas que reluziam com cada batida, ela soube que não era o Bons Ventos. Devia ser outro navio Phyrexiano.
 
Era enorme e crescia a cada momento. A estrutura do metal era inegável, a força e velocidade inevitável. Mesmo a distância, seu design Phyrexiano era claro.
 
Onde estava o Bons Ventos? Que defesas a cidade tinha, exceto pelo Bons Ventos? Tudo o que os rebeldes conquistaram seria desfeito por um único navio. Exceto que aquilo não era um navio – muito leve, muito vivo. As asas batiam em surtos e perante ele, um longo pescoço se contorcia, e atrás, uma cauda chicoteava.
 
“Um dragão mecânico!”
 
Cho-Manno olhou deslumbrado. Um sorriso surgiu em seu rosto. Aquela serpente metálica encheu os sonhos do povo dele por eras. Ramos e Orhop lutaram outra vez nos céus, mas desta vez, eles foram unidos nessa criatura – no Unificador.

Não podia ser verdade. Gerrard e Volrath não podiam ter se unido, assim como Dominaria e Phyrexia nunca se tornariam um. Um destruiria o outro. Para este povo, isso era verdade. Para eles, o mal liberado por Urza e Mishra se encerrou com a união de Ramos e Orhop, o dragão mecânico, o Unificador.
Sim, era o símbolo de união. O Unificador chegou!
 
A magnífica besta circundou a cidade, esticando suas asas. Os povos se curvaram, Saprazzianos, piratas de Rishada, guerreiros Cho-Arrim... E em uma voz tão antiga quanto as raças e um dialeto tão velho quanto Urza, o dragão mecânico falou, “Filhos de Ramos, seu protetor retornou.”
 
Dois dias depois, Gerrard e Orim estavam contemplando uma planície distante. Quando Gerrard percebeu que era Ramos e não um navio Phyrexiano, ele cancelou o ataque. O navio subiu mais alto, pois ele achava que seria melhor que o povo não visse o navio e Ramos ao mesmo tempo, para evitar conflitos de crenças. Assim que o navio aterrissou naquelas planícies ele mandou Dabis e Fewsteem para trazer o restante da tripulação e trazer provisões para o navio. Ao lado deles estava Cho-Manno e Atalla, o qual fora nomeado Protetor dos Fazendeiros das Planícies. Apesar do Bons Ventos estar pronto para partir, todos estavam olhando para a montanha de Mercádia.
 

 


Gerrard perguntou a Cho-Manno o que ele faria agora. Orim traduziu a pergunta e a resposta.
 
“Nós trabalharemos para unir a floresta, montanha, planície e o mar – para fazê-los aliados ao invés de inimigos. Talvez, em tempo, nós encontraremos um modo de unificar todos os povos deste mundo. Até isso, estou contente em curar as feridas infligidas pelos nobres Mercadianos e seus mestres Kyren.” (Máscaras de Mercádia, p.348)
 
Os goblins, a maioria pereceu na batalha, os poucos que sobreviveram foram capturados e seriam transportadas para outras montanhas. Lá, eles poderiam criar uma nova terra natal. Mas Cho-Manno não os deixaria se aproximar de Mercádia por um longo tempo. Algumas coisas jamais poderiam ser mudadas na cidade. Ela continuaria sendo um lugar para compra e venda, mas eles venderiam e comprariam bens e não almas, com moedas e não traição.
 

Olhando para o navio, Cho-Manno se dirigiu a Orim. Ele sabia que Chavala devia partir. O lugar dela era entre aquelas pessoas e naquele navio que trouxe o Unificador para o mundo. Ainda havia batalhas a serem travadas naquele navio, batalhas pelo próprio mundo dela, mas mesmo assim, ele ainda desejava que ela ficasse. Ele a amava e pensaria nela cada dia. Quando as batalhas por Dominaria findasse, quando Ramos e Orhop estivessem unidos e o mal fosse expulso, então ela retornaria para ele.

Ele previu isso e ela assentiu. Certamente, afinal ela o amava.
 
Cho-Manno puxou de suas vestes um frasco, derramou algumas gotas nas mãos. Então ele ergueu sua mão e tocou a testa de Gerrard. O Benaliano sentiu um pequeno choque gélido. Ele retirou sua mão, “Isto, é água do Umbigo do Mundo. Disto, Orim talvez falou com você. Eu não conheço seu destino, Gerrard. Seu futuro num lugar onde muitos caminhos se cruzam, e não posso ver qual você escolherá. Mas nos momentos sombrios, pense no Umbigo do Mundo, e você encontrará conforto.”
 
O Comandante virou-se para Atalla e perguntou se agora, com todo o ouro que ele conseguiu, ele compraria seu próprio navio voador. O jovem rebelde desejava algo maior do que isso. Com o dinheiro, trabalho árduo, e coragem eles poderiam trazer a floresta e água de volta para aqueles bolsões de pó e transformá-las em terras ricas.
 

Gerrard riu. Ele achava que Atalla fosse um aventureiro. Realmente, o garoto era, mas ele escolheu encontrar suas aventuras ali. Os quatro se cumprimentaram e permaneceram em silêncio por um momento. Então, o comandante subiu em seu navio e Orim seguiu seus passos. Ela subiu ao convés, lado a lado com ele, e ambos ergueram suas mãos dando adeus às duas figuras abaixo. A curandeira estava retornando a enfermaria para ajudar na recuperação de Squee. O pobre grumete ainda não estava totalmente recuperado do seu cativeiro.

Ela deu um sorriso triste e nada disse, apenas olhava em direção a Cho-Manno.
 
“Você retornará. Eu previ.”
 
Ela se dirigiu a enfermaria e Gerrard a ponte. Quando ele entrou, Hanna sorriu da sua mesa de navegação. Do leme, Sisay deu um breve aceno de cabeça. Pelo duto de comunicação ela ordenou, “Força total á frente. Preparar para transplanagem. Leve-nos para casa, leve-nos para Dominaria.”
 
Planícies abaixo

Atalla observava o grande navio se erguer lentamente da encosta. Ele encolhia enquanto acelerava. O ar na frente dele parecia brilhar e se dobrar, então, tão suavemente quanto um peixe desliza numa piscina, o Bons Ventos desapareceu dentro dos céus.
 
Atalla sorriu e se lembrou da noite quando ele viu o navio pela primeira vez.
 
 
 
 
 
 
 
 
Leandro Dantes ( Arconte)
Leandro conheceu o Magic em 1998 e, desde então, se apaixonou pelo Lore do jogo. Após retornar a jogar em 2008, se interessou por lendas, o que resultou por despertar a paixão pela escrita. Sempre foi mais colecionador do que jogador e sua graduação em Pedagogia pela Ufscar cooperou para que ele aprimorasse e desenvolvesse um estilo próprio. Autor de alguns contos, todos relacionados ao Magic, já traduziu o livro de Invasão e criou sua própria saga com seu personagem, conhecido como Arconte.
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Comentários
Ops! Você precisa estar logado para postar comentários.
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- 05/01/2018 15:16:30
Excelente historia! Aguardando a próxima!
(Quote)
- 03/01/2018 16:20:41

Aeeeeeeeee... Ansioso já!!!

(Quote)
- 03/01/2018 00:38:54

massa! aguardando!

(Quote)
- 26/12/2017 13:16:42

A ideia é manter a sequência das coleções, logo a próxima será Nemesis. Janeiro retornaremos

(Quote)
- 21/12/2017 18:56:43
Meu deus!!! que final incrível! sim demorei mais de uma semana pra ler tudo!
Parabenizo o idealizador por nos ter oferecido essa lore, espero que continue porque muitos amam as historias antigas, as atuais não tem tanta emoção...
qual virá em seguida??
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