Otimizando seu tempo.
Olá! Não faz tanto tempo assim, escrevi um artigo compartilhando
5 dicas simples para melhorar o seu jogo, focando principalmente nos jogadores que querem ser mais competitivos em suas lojas para participar de PPTQs e CLMs com chances reais, ou mesmo não fazer feio nos torneios locais, como Standard Showdown e Store Championship.
Com o bom feedback que aquele artigo teve, e com a sugestão do pessoal nos comentários, deixei "na stack" um texto falando sobre treinos. Inicialmente, pensei em compartilhar exatamente como é minha rotina de treinos, mas mesmo isso é algo que varia de semana pra semana ou de formato pra formato, e talvez não tivesse profundidade o suficiente para um artigo inteiro. Portanto, optei por compilar 5 hábitos que podem ser incorporados nos treinos de qualquer um, fazendo toda a diferença na preparação, e que certamente me ajudam a estar em boa forma nos torneios que disputo.
1 . Acompanhe mais conteúdo
Assim como na escola ou na faculdade, ler é parte importante da formação do jogador competitivo, e infelizmente não existem atalhos. O material teórico "base" são as grandes peças escritas por PV, Reid Duke, Brad Nelson, entre outros. Também há, mais antigamente, outros filósofos do jogo, como Mike Flores e Zvi Mowshowitz. "Who's the beatdown", "The Philosophy of Fire", a série de macroarquétipos do PV, o guia passo-a-passo de como melhorar no jogo do Reid Duke. Esses artigos são a bibliografia básica para qualquer um que queira avançar mais competitivamente no jogo.
Estabelecida a base, a manutenção da leitura é importante para fixar os conteúdos e para se manter atualizado nos específicos de metagame, decks, primer, sideboard que são alterados de tempos em tempos. Além dos textos, ouvir podcasts, assistir streams e gameplays no youtube são formas de ir complementando o conhecimento, e mesmo para os que não conseguem ler/ouvir em inglês, temos um ótimo material original de produtores aqui do Brasil que podem ajudam a fortalecer esse campo do conteúdo (como os artigos aqui da Ligamagic!).
Claro, é verdade que seria humanamente impossível ler tudo que é postado em todos os lugares, mas o que estiver ao nosso alcance que pudermos fazer para ir além (PLUS ULTRA!!) deve ser feito dentro do definido como limite de esforço para cada um. Só que não tem desculpa quando estiver em algum torneio importante, e não tiver lido o artigo dessa semana do PV ou do Brad Nelson!
2. Colegas de equipe com objetivos e esforço similares
É primordial aproximar-se de pessoas para formar uma equipe de treinos e discussões, seja compartilhando pool de cartas ou não, mas que tenham objetivos e níveis de esforço similares (treinando juntos para ganhar uma vaga no RPTQ ou na Final do CLM, por exemplo). Discuta as novas techs com esses colegas, monte ou participe de uma rede a qual você pode colher informações para sondar sobre o ambiente de eventos, ver como está o hype e o feeling da galera para determinado evento. Se você mora numa cidade longe, ou ninguém joga o mesmo formato que você, a internet com grupos de WhatsApp ou Facebook pode se tornar uma grande ferramenta aliada.
É importante contar com colegas em cujas opiniões você confie, já que ninguém tem todo o tempo do mundo para testar tudo, especialmente em formatos mais abertos como Modern e Pauper (nem mesmo os pros que vivem só disso). Se um amigo seu está ganhando tudo com determinado deck e te falando que é a boa, tome ao menos cinco minutinhos para ver do que se trata e quem sabe não funcione para você.
Eu mesmo ganhei um PPTQ de UW Embalm na outra temporada com o deck que o Diego Cichello ficou insistindo que era a boa, e realmente era. Só que que eu dificilmente teria tido acesso ao mesmo se fosse só olhando de vez em quando nos 5-0 ou num artigo perdido por aí, simplesmente porque ninguém jogava ou conhecia muito o deck além do pessoal no nosso network.
3. Manter registro de suas partidas
Mantenha registro da suas partidas, com planilhas para identificar quais matchups está ganhando ou perdendo mais. Se possível, marque ainda a quantidade de games (e não só matches), play/draw, com planos de side ou builds diferentes. É óbvio que, quanto maior a amostragem, melhor, mas só de colocar os principais decks do metagame num quadro e observar como você está se saindo contra eles ajuda a ver em quais pontos você pode melhorar e em quais pode ceder um pouquinho.
Essa foi uma planilha simples, que usei em cerca de 250 partidas no Magic Online com o BBE Shift antes do GP São Paulo. Com ela, pude analisar de forma quantitativa como o deck vinha se comportando, ver com mais clareza quais as matches que eu realmente precisava me concentrar em ganhar, já que estavam próximas de 50/50 em um ponto onde cada slot a mais poderia fazer a diferença.
Exemplo prático: eu queria utilizar Thrun, the Last Troll, mas meus jogos contra UW e Jeskai já eram satisfatórios (win rates superiores a 60%) enquanto que o meu contra UR Moon era fraco demais a ponto de, caso melhorasse, não tornaria a match boa (ou sequer menos pior a um ponto aceitável como 35/65). Então, optei por
Huntmaster of the Fells, que fazia mais diferença em matches mais próximas ou complicadas como Humanos e Hollow One.
Na temporada Modern do ano passado, montei a mesma tabela, com os resultados de mais ou menos 400 matches de Ad Nauseam no MTGO. Isso me ajudou a ver que Company decks, Affinity e Storm eram decks dos quais eu poderia ganhar desde que tivesse um sideboard dedicado para tal. No começo dos testes, eu tinha uma win rate fraca, mas com adaptações na forma de sidear e um ou outro slot alterado consegui virar o jogo drasticamente a meu favor (tornando até positiva a win rate nessas matches).
4. Nada substitui a prática - Jogar é preciso, viver não é preciso
Teorizar o dia inteiro com o pessoal pode ser divertido — eu mesmo adoro. Boa parte dos temas para os artigos saem desses momentos, além de reflexões que ajudam a direcionar o "macro" na hora dos treinos. Mas não há nada igual a pegar o deck e jogar diversas partidas. Jogando, é possível ver ali, em primeira pessoa, quais mãos keepar/mulligar, e mesmo no quesito matchups, identificar quais pontos da teoria são furados e acabam não funcionando na prática. Jogar ajuda a fixar os conceitos que passamos tanto tempo moldando e estudando.
Não existe uma receita certa: costumeiramente jogamos 5 na play e 5 na draw, pré side e pós side, para ter um feel no matchup e testar estratégias de side. Podemos algumas vezes alterar o plano do side, ou mesmo um ou outro ajuste na lista entre esses jogos. Com regra do mulligan (mulliga novamente para 7 as mãos injogáveis, e keepa qualquer mão "terrenos e mágicas") ou sem (jogando normalmente, e abrindo mais margem para mulligan estratégicos). Entre essas "duas regras", existe também um território flexível, onde avaliamos quais os decks/formatos em que devemos usar uma e não outra regra. Tudo em prol de tornar o treino o mais proveitoso e eficiente possível, levando em conta o fator tempo.
Se for difícil reunir os amigos para jogar presencialmente, o Magic Online é o seu melhor parceiro. Uma liga por dia, um match por dia, no ritmo que você conseguir acompanhar. Pode até ser nas Casual Room. Se não tiver o MTGO, tentar reservar um dia da semana para jogar os regulares na loja, ou mesmo marcar em horário de almoço do trabalho/faculdade com outras pessoas que tenham disponibilidade. O que importa é pegar o seu deck e jogar.
O último recurso é ficar comprando as mãos no modo "solitaire" e sequenciando, imaginando como reagir à aberturas curvadas do oponente, ou mesmo cenários de sequenciamento, para ter alguma experiência prévia quando for jogar no torneio. Essa dica é especialmente importante para decks combo, que muitas vezes requerem interações complexas e ignoram a maioria do que o oponente faz, além de te ajudarem a ganhar velocidade e domínio na hora da execução do combo nos torneios.
5. Saia da Casinha
Isso mesmo, pense fora da caixa, esteja disposto a testar coisas diferentes, ousar quando seus instintos (e resultados) indicam algo. Pode ser tudo: desde um deck que ninguém acha que é bom, mas funciona, um plano de sideboard ousado, ou mesmo uma tech que ninguém nunca usou, mas que pode funcionar. Mesmo que você não seja exatamente o primeiro a pensar em algo, trazer algo que estava fora do radar às vezes é a diferença em pegar um oponente despreparado durante o torneio.
Sei que hoje em dia com Magic Online e ampla informação de decklists, artigos e techs na internet é bem mais difícil ser o pioneiro inovador em algo, mas acontece. O Mardu Pyromancer era um deck que surgiu no MTGO recentemente, com seu criador terminando líder de troféus na Liga competitiva Modern por uma margem esmagadora em relação à concorrência, até ser aperfeiçoado e tunado pelo Gerry Thompson e seu time, que levaram o deck às finais do Pro Tour Rivals of Ixalan. Ironicamente, seu carrasco na final, o campeão Lantern Control, foi outro deck que foi lapidado pela comunidade em fórums na internet até ter feito seu debut anos atrás levando um Grand Prix.
Na época do RPTQ de Trios desse ano, muita gente me criticou por ter escolhido o UW GPG como deck a ser jogado. Nas semanas anteriores, o deck estava correspondendo bem pra mim no Magic Online, e poucos dias depois ressurgiu como deck Tier no Standard após fazer Top 8 nos GPs Pittsburgh e Cingapura (levando o troféu aqui), no Nacional norte-americano e em Opens da SCG. Acabou que o RPTQ não deu bom pra gente, mas o raciocínio deu certo para os que usaram o deck em eventos maiores nas semanas seguintes, com vários jogadores percebendo que aquele era um bom momento para o deck e sem receio de ir fora da casinha "Chainwhirler vs. Teferi", que eram as únicas verdades absolutas naquele momento do T2 com Dominaria.
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E quanto a vocês, leitores, quais outros hábitos incorporam nos seus treinos que funcionam? Quem sabe alguma variação dos métodos aqui mencionados? E têm alguma sugestão para potencializar as ideias citadas? Deixem suas opiniões nos comentários!
Abraços e até a próxima!