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Nêmesis - Banquete
Capítulo 11 da saga.
02/01/2019 18:05 - 1.663 visualizações - 0 comentários
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NÊMESIS – CAPÍTULO 11

 

 

 

Teria sido mais rápido procurar Crovax pelo ar, mas Greven tinha levado o Predador para encontrar a Força Expedicionária de Skyshroud, então tiveram que contar com um dos antigos caminhantes de duas pernas de Volrath. O Peru sem Cabeça, era assim que Ertai o chamava, se arrastava através da paisagem ondulante abaixo da cratera. O caminhante fez um lento progresso sobre o terreno irregular.
 
Em frente à principal estrada da Fortaleza, a planície estava nivelada e coberta com grama amarela que subia até o joelho. Enquanto o Peru saia de um buraco raso, os olhos agudos de Belbe avistaram uma mancha no horizonte.
 
“Mais rápido.”
 
A velha máquina de Volrath cobria o chão plano de forma admirável, cada varredura dos pés de metal despedaçavam um torrão de poeira. Ertai estava nos controles, o qual era consistido de duas alavancas, uma para direita e outra para esquerda. Ele as empurrou o máximo que pôde, indo a toda velocidade. Belbe estava na frente, com a mão na testa, procurando por obstáculos. Saltitando nas costas estava Dorian, se agarrando nas laterais do caminhante com as mãos nuas.
 
Quando eles ainda estavam a uma milha de distancia da multidão evidente, Belbe enrijeceu-se e sinalou para Ertai para diminuir a velocidade. Ele se lançou nas alavancas, levando o Peru de um galope para um trote lento.
 
“O que você viu?”
 
“Pessoas. Eles parecem estar flutuando acima do solo.”
 
Um grito distante chegou até eles, um lamento fino de puro terror e angústia máxima. Ertai abriu as mãos, e o caminhante parou.
 
“Ele não está-!”
 
“Está.”
 
Belbe saltou para o lado. Eram oito pés até o chão, mas ela aterrissou levemente e começou a correr. Ertai mexeu os controles para avançar, enviando o caminhante atrás da emissária.
 
Belbe cobriu as últimas oitocentas jardas em instantes. O que ela pensara que eram pessoas flutuando não era nada disso. À frente da planície estava densamente cravejada de estacas afiadas, formadas pelo substrato de rochafluente sob a fina camada de solo superficial. Empalados nas estacas estavam os reféns – milhares deles.
 
Belbe parou, paralisada pela cena diante dela. Crovax ordenara as estacas para saírem do solo, empalando as vítimas onde estavam. Alguns morreram imediatamente. Outros levaram tempo para encontrar a morte, e uns poucos ainda lutavam pela vida. Seus gemidos eram como o vento rodopiante, vindo de todas as direções de uma vez.
 
Ela não ouviu o caminhante parar atrás dela. Ele se agachou e Ertai saiu. Dorian não pôde. Ele afundou o rosto nas mãos e soluçou.
 
A próxima coisa que Belbe percebeu foi a mão de Ertai no ombro dela. Ela não se importou dessa vez.
 
“Como ele pôde fazer isso?”
 
“Seus poderes sobre a rochafluente estão crescendo exponencialmente. Ele aprendeu a fixar as formas de maneira permanente. Impressionante.”
 
“Impressionante? Como pode dizer que este selvagem é impressionante?” Ertai deu um passo para trás, um olhar aterrorizante no rosto.
 
Lentamente, Belbe caminhou na floresta de mortos. A maioria das estacas tinham entre oito a dez pés de altura, altas o suficiente para que as vítimas não alcançassem o chão. As estacas de metal cinza estavam negras com o sangue e o ar estava pesado com o cheiro de sangue. Ertai tentou seguir Belbe, mas em poucos metros ele não aguentou devido as náuseas.
 
Pasmada, Belbe abriria caminho pelo labirinto de estacas.
 
Uma vez que eles brotaram onde quer que a pessoa estivesse, não havia ordem nem padrão para a colocação deles. Onde uma família se ajuntara para se salvar, uma estaca surgiu para cada um deles. Ficar sozinho também não ajudaria. Muitas vítimas pareciam ter sido apanhadas no meio do passo. Idade e sexo não faziam diferença – todos caíram a insaciável vingança de Crovax.

Um berro veio de algum lugar perto. Entorpecida, Belbe se virou em direção ao som. Ela viu um bando de moggs maltratando um homem Dal. Sem pensar, ela se lançou neles, atacando os goblins repugnantes com seus punhos e pés. Desnorteados, os moggs deixaram a presa ir e fugiram.
Belbe tentou ajudar o homem a ficar de pé, mas ele estava ensandecido de medo e ficava tentando se arrastar de quatro.
 
“Está tudo bem, está tudo bem,” Belbe disse várias vezes. O homem, atolado em sangue, olhou para ela e tentou falar.
 
Suas palavras foram cortadas por uma estaca que explodiu do solo embaixo dele. Ela surgiu tão poderosamente que o homem foi levantado a quatro pés no ar antes que Belbe pudesse reagir. Ela agarrou a estaca que continuava crescendo, e tentou quebra-la, mas mesmo sua força considerável não teve efeito na haste de metal de oito pés de altura e quase sete polegadas de espessura. O sangue escorria pela haste cobrindo as mãos de Belbe. Tremendo, ela se afastou e gritou.
 
Ertai ouviu o grito dela. Enjoado e abalado, ele correu até ela, chamando por seu nome. Ele circulou um aglomerado de espessas estacas e ambos caíram nos braços um do outro. Belbe estava coberta de sangue até os cotovelos, e um denso borrifo de sangue acertou o rosto dela.
 
“Belbe! Belbe!”
 
Ele gritava, balançando-a pelos ombros. Ele ergueu uma mão para acerta-la, mas com seus reflexos de relâmpago ela pegou a mão dele antes que ele desse o tapa.
 
“Me bata e eu mato você!”
 
Para enfatizar o que disse ela apertou a mão dele. Ertai dobrou as pernas para aliviar a pressão da mão, e Belbe o forçou a ficar de joelhos.
 
“Não me machuque. Pessoas demais já não foram machucadas hoje?”
 
Repentinamente envergonhada, ela o soltou. “Crovax. Devo encontrar Crovax.”
 
Sangue e poeira formavam uma densa lama marrom que se apegou aos joelhos de Ertai. “Irei com você.”
 
Eles vagaram por um campo de carnificina que parecia não ter fim. Ertai manteve os olhos no chão, mas Belbe olhava atentamente o horror. As visões e cheiros da morte a agrediam a cada volta e, a implacavelmente analítica mente dada pelos mestres Phyrexianos, a faziam catalogar cada vítima que encontrava: masculino, Dal, idade estimada, 60. Empalado pelo peito. Masculino, Vec, idade estimada, 72. Empalado pela coxa, abdômen, axila. Feminino, Vec, idade estimada, 11. Empalada pelo pé, coxa e cabeça. Feminino, Dal, idade estimada, 44. Empalada pelo abdômen. Feminino, Dal, 28. Empalada. Masculino, Vec, 6. Feminino, Kor. Feminino. Feminino. Masculino...
 
Ertai estava segurando a mão dela. Ela cessou seu catálogo macabro e disse, “Ainda quer o trabalho?”
 
“Como posso derrotar alguém que faz tais coisas? Como permite que um monstro como ela governo esse mundo inteiro?”
 
“Devo escolher o melhor candidato para evincar. Existo para fazer essa escolha.”
 
Belbe escutou vozes à frente. Ertai soltou a mão dela e seguiu as vozes. Belbe o seguiu, contando metodicamente os mortos.
 
No epicentro do campo de morte estava um espaço limpo com vinte jarda de largura. No meio da clareira estava Crovax numa longa mesa retangular, coberta por uma toalha de mesa branca imaculada.
 
 
Ele estava de costas para eles. Um grupo de moggs armados com machados e clavas estavam ociosos ao redor da clareira. Outros com uniformes estranhamente cômicos – uniformes de veludo extravagante e perucas – carregavam comida numa salva de prata.

“Bem-vinda, Excelência,” Crovax disse, ainda de costas. “O meu rival, Ertai, está com você?”
 
“Canalha,” Ertai cuspiu, começando a avançar. Belbe o conteve.
 
“Estamos almoçando?”
 
Alguma frieza retornara a sua voz. A visão de Crovax deu foco necessário aos seus sentidos ultrajados.
 
“Um leve banquete. Foi uma manhã movimentada. Por favor, junte-se a mim.”
 
O rosto de Ertai ficou vermelho, mas Belbe o advertiu com um olhar.
 
“Não como, mas obrigado.” Ela fez com que Ertai a seguisse.
 
Eles circularam o fim da mesa que Crovax erguera do solo e duas cadeiras se solidificara. Belbe sentou-se graciosamente em uma e Ertai sentou-se pesadamente na outra.
 
Era uma cena extraordinária. Crovax descartara seu traje preto habitual e estava todo de branco – sem sangue, totalmente branco, sem uma partícula de sangue ou sujeira nele. Um manto branco, debruado de ouro sobre seus ombros e na sua cabeça, ele usava um aro liso feito em ouro e esmalte branco. Ele cortara seu longo rabo de cavalo na altura do pescoço e deixou o cabelo solto.
 
Se não tivesse sido apoiado por um panorama de morte violenta, Crovax teria sido o epítome de um monarca civilizado e pacífico.
 
“Vinho?”
 
Um mogg, numa gravata branca mal ajustada, se achegou até Belbe carregando uma urna de prata. “É um dos raros de Volrath. Foi me dito que ele bebia por prazer.”
 
Belbe disse nada, então o mogg encheu a taça de cristal até a boca. O vinho era brilhantemente escarlate e cheirava fracamente a flores.
 
“Dê algum para o garoto, também. Assumo que ele possa beber,” disse Crovax.
 
“Por que fez isso? Por que matar pessoas inocentes?”

“Você me surpreende, Excelência. Os soberanos não ensinaram que a ferramenta mais valiosa para se governar era o medo? Este pequeno exercício garantirá lealdade – ou pelo menos, obediência – da população civil durante a campanha vindoura contra Eladamri.”
 
“Pequeno exercício?” Ertai berrou. Sua taça caiu, derramando vinho brilhante sobre a toalha branca. Antes que alcançasse a parte dos pesados pratos de prata, o líquido escarlate desapareceu, assim como a taça de Ertai.
 
“Sem mais vinho para você,” Crovax disse.
 
“Cinco mil e oitocentos e sessenta e oito mortos se qualificam como pequenos exercícios,” Belbe disse.
 
“É mais do que mil,” lembrando-a da mentira dela. “Mas eles eram descartáveis. Dorian somente escolhera os velhos e fracos.”
 
“Você é um monstro,” Ertai disse sem rodeios.
 
“Isto vem do garoto que queria ser evincar! Me disseram que os reféns foram ideia sua.”
 
“Ninguém devia se machucar.”
 
“Você é sentimental, Ertai. Não há lugar para sentimentos em Rath.”
 
“O que você chama de sentimentos, chamo de prudência,” Belbe disse. Ela conseguia ver seu reflexo no prato de prata em frente a ela. O rosto selvagem e manchado de sangue, dificilmente poderia ser o dela.
 
“Suas ações são precipitadas, Crovax. Não há evidencia que o povo da Fortaleza pretenda se erguer em rebelião contra nós. Foi você que deu a eles uma causa comum com Eladamri ao assassinar seus familiares.”
 
“Com todo respeito, Excelência, você não sabe do que está falando. Eu estava com o exército quando fomos emboscados pelos rebeldes. Havia guerreiros Dal e Vec com os elfos de Skyshroud.”
 
“Então você vinga sua derrota nas crianças e pessoas indefesas e velhas?” disse Ertai.
 
“Sim.” Ele bebeu do vinho. “Como evincar, não tolerarei resistência ao meu governo. A única lei do reino será: obedeça ou morra.”
 
“Você não é evincar ainda,” Belbe disse.
 
Crovax bateu a taça e se levantou. “Então me declare! Agora!”
 
“Há outros fatores a considerar.”
 
“Quais? Ele?” Crovax tirou uma faca da mesa e apontou para Ertai. “Posso mata-lo sem sair da minha cadeira!”
 
“Vimos o que você aprendeu a fazer,” Belbe replicou. “Sua maestria sobre a rochafluente cresce diariamente, mas você perdeu a batalha e uma grande parte do seu exército. Você demonstra pouco entendimento de como as pessoas devem ser governadas, contando com a força ao invés de ser um estadista. Na verdade, Crovax, seus métodos são ineficientes, e enquanto estiver preocupada, o assunto sobre quem sucederá Volrath permanece não resolvido.”
 
Ele sentou-se novamente. “Você constantemente me fascina, Excelência. É claro que você está certa. Veremos nos próximos dias quem é o melhor candidato, não é?”
 
 
Leandro Dantes ( Arconte)
Leandro conheceu o Magic em 1998 e, desde então, se apaixonou pelo Lore do jogo. Após retornar a jogar em 2008, se interessou por lendas, o que resultou por despertar a paixão pela escrita. Sempre foi mais colecionador do que jogador e sua graduação em Pedagogia pela Ufscar cooperou para que ele aprimorasse e desenvolvesse um estilo próprio. Autor de alguns contos, todos relacionados ao Magic, já traduziu o livro de Invasão e criou sua própria saga com seu personagem, conhecido como Arconte.
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